Nas horas após o primeiro encontro entre os presidentes Joe Biden e Jair Bolsonaro (PL), nesta quinta (9), diplomatas e outros integrantes do governo brasileiro se mostraram, em conversas reservadas, surpresos com os resultados do encontro e disseram que houve “química” entre os líderes de EUA e Brasil.
Membros da comitiva em Los Angeles consideram que a visita pôs um ponto final na crise entre os mandatários. Biden não havia conversado com Bolsonaro desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2021, e o presidente brasileiro é próximo do antecessor do democrata, Donald Trump, chegando a endossar ataques do republicano contra o sistema eleitoral americano.
A Folha conversou com cinco brasileiros envolvidos na realização da reunião, à margem da Cúpula das Américas. Sob condição de anonimato, eles disseram que, na primeira parte do encontro, em que cada um discursou por cerca de dez minutos diante de jornalistas, ambos os líderes pareciam distantes.
Bolsonaro falou de modo pausado, lendo um papel, enquanto Biden mantinha os braços na frente do corpo e levava as mãos à boca, como no momento em que o brasileiro criticou o isolamento social durante a pandemia. Um ponto celebrado por integrantes do governo brasileiro foi a defesa do chefe da Casa Branca para que mais países ajudem o Brasil com recursos para evitar o desmatamento.
No segundo momento, sem a presença da imprensa, de acordo com relatos de pessoas presentes na reunião, os presidentes falaram com mais detalhes de temas citados nos discursos iniciais. Bolsonaro teria tentado propor novas parcerias a Biden, que teria reagido com poucas palavras e de modo protocolar.
O americano também teria feito elogios pontuais e falado sobre geopolítica, citando inclusive o Oriente Médio. Após 15 minutos, Bolsonaro pediu que a conversa ficasse mais reservada, com a permanência apenas de tradutores, do chanceler brasileiro, Carlos França, e do secretário de Estado, Antony Blinken.
O americano topou, e a partir daí teria havido uma conversa mais direta sobre temas que afetam a relação entre os países. Após a reunião, Bolsonaro se mostrou satisfeito. “Foi muito melhor do que eu esperava”, disse, ao voltar ao hotel em que está hospedado. “Estou maravilhado com ele.” “O que eu falei, e falei bem mais que ele, ele concordou. Se conseguirmos ampliar este eixo norte-sul será bom para todo mundo.”
Bolsonaro disse esperar mais encontros com o líder americano, mas diplomatas brasileiros consideram improvável, uma vez que as eleições brasileiras serão daqui a quatro meses, e um novo gesto americano às vésperas do pleito poderia ser encarado como um endosso.
Uma das autoridades disse ver no convite de Biden para encontrar Bolsonaro em Los Angeles um sinal do enfraquecimento da ala progressista do Partido Democrata, cujos membros já fizeram críticas públicas ao presidente brasileiro, inclusive durante a semana da visita, devido ao desmatamento na Amazônia e aos ataques do brasileiro à democracia. Por isso, pressionam o líder americano a ficar distante de Bolsonaro.
Após a reunião, a Casa Branca divulgou um comunicado em que chamou a parceria entre EUA e Brasil de “vital para os esforços internacionais para lidar com a crise climática e garantir a paz”. O governo americano também reafirmou o apoio para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o clube dos países ricos.
A nota afirma ainda que os dois presidentes se comprometeram a trabalhar em parceria para reduzir o desmatamento, a atuar de forma conjunta no Conselho de Segurança da ONU na busca de uma resolução da Guerra da Ucrânia e a “apoiar a renovação democrática” —sem detalhar como isso se dará.
Já no fim da noite de quinta-feira em Los Angeles, o Itamaraty divulgou novas fotos. Uma delas mostra Bolsonaro e Biden sorrindo, enquanto o presidente brasileiro toca no braço do americano. Imagens de um aperto de mãos entre os dois, entretanto, ainda não foram vistas. Apesar da empolgação com o encontro, Bolsonaro dispensou uma nova chance de ver Biden no mesmo dia. Ele não foi a um jantar oferecido pelo líder americano para os chefes de Estado que viajaram para a Cúpula das Américas.
Rafael Balago